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O envelhecimento da população
O envelhecimento da população tem consequências sociais provocando conflitos entre as gerações – ageism – pelo desequilíbrio que resulta da diminuição das camadas mais jovens e do crescimento das camadas mais velhas.
Os mais novos sentem os idosos como um peso na sociedade que consomem recursos em excesso na segurança social e na saúde.
Além disso, consideram que os idosos ocupam excessivamente o mercado de trabalho, não libertando empregos que poderiam ocupar e levando à emigração jovem.
Os mais velhos consideram que são meramente tolerados e não são valorizados, designadamente na transmissão de conhecimentos.
Por outro lado, tendem a não reconhecer o valor das novas gerações, considerando que aspetos como as qualificações académicas não se sobrepõem à experiência, ainda que baseada em rotinas e métodos ultrapassados.
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O Coronavírus e a Covid-19
A situação de saúde pública provocada pelo Coronavírus e pela doença Covid-19 acentuou este conflito.
A circunstância de a idade avançada ser um fator de risco gerou o sentimento de que os idosos eram os causadores da sobrecarga dos serviços de saúde e da carência de recursos nesta área.
Os idosos eram também responsáveis pelas medidas de confinamento e pelos problemas económicos que surgiram.
Percebeu-se que em algumas partes do mundo a ideia generalizada era que os idosos representavam uma parte da sociedade que sempre seria atingida independentemente das medidas que fossem implementadas e de que podia prescindir-se.
Nos mais novos o sentimento era que a juventude era sinónimo de invencibilidade, o que se traduziu no acentuar de aspetos como o individualismo.
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O novo mundo
Na comunidade internacional formou-se um movimento no sentido que a pandemia pode ser uma oportunidade para refletir sobre a sociedade e a procura de um mundo melhor.
Este movimento abarca aspetos como a política, apelando para modelos mais inclusivos e uma maior representatividade das populações; a economia, através da generalização dos modelos do comércio justo e de uma repartição mais equilibrada dos benefícios; o ambiente e a ecologia, com uma gestão mais consciente dos recursos e respeito pelas gerações futuras.
Também têm sido discutidos aspetos relacionados com a centralidade da pessoa, a dignidade, o respeito pelos direitos e a formação de uma sociedade mais colaborativa em que todos têm um papel a desempenhar.
A crise provocada pelo Coronavírus e pela doença Covid-19 demonstrou a essencialidade da colaboração entre todos nos serviços a prestar e na procura de soluções.
Neste movimento destacam-se escritores como Arundhati Roy, autora de obras como O Deus das Pequenas Coisas e vencedora de um Man Booker Prize.
Historicamente, as pandemias forçaram os humanos a romper com o passado e imaginar o seu mundo novo. Esta não é diferente. É um portal, uma passagem entre um mundo e o outro. Podemos escolher caminhar por ele, arrastando as carcaças do nosso preconceito e ódio, a nossa avareza, os nossos bancos de dados e ideias mortas, os nossos rios mortos e céus esfumaçados para trás. Ou podemos caminhar com leveza, com pouca bagagem, prontos para imaginar outro mundo. E prontos para lutar por isso.
— Arundhati Roy, The pandemic is a portal, Financial Times, 3 de abril de 2020
Entre nós, podemos referir Viriato Soromenho Marques, filósofo e pensador nas áreas do ambiente, conservação da natureza e desenvolvimento sustentável, com aquilo que designa de substituição da distopia da dominação pelo princípio da fragilidade.
O ainda incalculável preço físico, moral e económico da crise global causada pela expansão da pandemia do Covid-19 terá sido em vão se aceitarmos as duas teses que muitos governos começam a enunciar na sua gestão da resposta: esta crise é externa, como se fosse uma calamidade natural sem relação com a ação humana; a vitória sobre esta crise será conseguida quando retomarmos a normalidade, fazendo o mesmo que antes e da mesma maneira. Se nos deixarmos embarcar nesta visão cega e febril perderemos o potencial de conhecimento e de regeneração que uma crise enfrentada com os olhos abertos sempre permite.
— Viriato Soromenho Marques, Por uma habitação da terra, Jornal de Letras, 25 de março de 2020
Devemos ser sensíveis a esta matéria.
A nossa atuação deve ser no sentido do respeito pela autonomia, pela capacitação e pela valorização da pessoa, numa sociedade em que todos têm espaço, valorizando-se o contributo dos mais novos e dos idosos.
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A intergeracionalidade
A intergeracionalidade insere-se neste movimento.
Muitos dos aspetos negativos a que fizemos referência resultam do desconhecimento entre as gerações mais novas e os idosos.
Este desconhecimento é mútuo, não podendo ser atribuído a uma ou outra geração.
Justifica-se a criação de espaços de partilha de experiências e conhecimento entre jovens e pessoas de mais idade que tenham gostos ou interesses comuns.
Igualmente importante é a discussão entre pessoas de diferentes gerações sobre a nova sociedade que surgiu e em que já estamos a viver e o novo mundo que podemos aproveitar para construir corrigindo muito daquilo que sentimos que não estava correto e substituindo modelos que estavam esgotados.
Neste sentido, como afirma Arundhati Roy, ‘nada podia ser pior do que regressar à normalidade’.
Sugestão de atividade
- Os elementos disponibilizados pretendem gerar a reflexão e o debate sobre a situação atual e a oportunidade para uma sociedade melhor com o contributo de todas as gerações.
- Estes elementos destinam-se a ser debatidos pelos professores e alunos.